A posição geográfica do Chile o coloca onde se juntam as placas tectônicas de Nazca e Sul-Americana. O movimento dessas placas, que se comprimem entre si e, de tempos em tempos, precisam liberar energia, causa o chamado sismo. Esse tremor na superfície terrestre também pode ser causado por falhas geológicas ou vulcanismo.
Em 1960, o Chile passou pelo maior terremoto da história da humanidade, com epicentro em Valdivia e magnitude 9.5 na escala Richter.
Nosso primeiro “chacoalhão”
Me perguntem se eu sabia de todos esses detalhes quando vim ao Chile pela primeira vez a turismo. Minha resposta é não. Vim, amei, curti e fui embora feliz da vida sem ter ideia do quão frequente são os tremores por aqui ou de quais são as regras básicas de precaução.
Quando soubemos da possibilidade de transferência para morar no Chile e começamos a pesquisar o país, o assunto dos terremotos e tsunamis (possível consequência de tremores mais intensos) foi o que logo nos saltou aos olhos. Para se ter uma ideia, o Centro Sismológico Nacional, da Universidade do Chile, reportou 8.094 sismos em 2017, sendo 352 considerados perceptíveis.
Após decidirmos mudar, viemos ao Chile por alguns dias para um primeiro reconhecimento de área, e dessa vez, já muito melhor informados. Ao nos apresentar para check-in no hotel, a recepcionista informou que nosso quarto era no 16o andar. Rapidamente eu perguntei: mas e se tiver um terremoto? Ela sorriu, com toda a tranquilidade que um chileno trata o assunto, e me respondeu: a saída de evacuação fica bem em frente à porta de seu quarto. Desça pelas escadas, se necessário.
Eu sorri de volta e partimos ao início da exploração de nosso futuro país de residência, sem imaginar que, de fato, naquela madrugada, passaríamos pelo nosso primeiro “temblor”.
A verdade é que esse negócio é tão fora da realidade para nós brasileiros, que não damos a devida importância até que aconteça!
No momento que acordei com aquele barulho de trovão, como que remexendo a terra, ouvi as xícaras do quarto batendo e senti o prédio balançar de um lado para outro, tudo o que achei que sabia, mudou.
A tremida durou alguns segundos e parou. Menos tempo do que o prédio levou para parar de balançar. Logo começou de novo… e parou. Fiquei paralisada na cama, sem saber se aquele já era o momento de sair pelas escadas fingindo tranquilidade, pois a primeira recomendação é manter a calma. Silêncio total no corredor. Decidimos que se voltasse a tremer iríamos descer, mas não aconteceu. A adrenalina estava alta e foi impossível voltar a dormir, então veio a primeira incerteza: vamos mesmo vir morar aqui? E logo depois estava decidido: só vamos buscar casa ou apartamento em andar baixo. E foi assim que um tremor decidiu por nós como seria nossa próxima moradia.
Foi um tremor de 5.5 na escala Richter, o que não é considerado forte, porém teve o epicentro bem próximo de Santiago.
Vivendo em um país sísmico
Hoje, morando aqui há alguns meses, já sentimos a terra tremer meia dúzia de vezes, até com intensidade maior, mas nunca chegamos ao ponto de não poder andar. Mesmo assim, é sempre tenso. E os dias seguintes também, pois podem vir as réplicas.
Os chilenos crescem ouvindo sobre os desastres naturais aos quais o Chile está exposto, e desde pequenos são treinados nas escolas com simulações de evacuação. Talvez parte da tranquilidade com que lidam com o tema venha do fato de que sabem o que fazer para se proteger da melhor maneira. Sabem também que o país está bastante preparado para receber as chacoalhadas.
A nós, que geralmente não temos muita ideia, vêm duas reações: paralisar ou sair correndo. E acredite, nenhuma delas é a melhor opção. Tentar manter a calma e agir com racionalidade são as mais importantes recomendações.
Como se preparar para um terremoto
Não há como prever um terremoto. Acontece de repente e, para mim, o que assusta mais, é não saber se será apenas um leve tremor ou se vai virar algo forte e se estender. Na hora que começa, não há tempo de pensar no que fazer. Por isso a importância de conhecer as recomendações e preparar o ambiente de moradia ou estadia da melhor forma, antes.
Geralmente, a cozinha é onde faz mais barulho e há muito risco de cair coisas de vidro. Pensando nisso, nunca deixo nada na beirada da pia ou dos armários. O que é de vidro está sempre encostado ao fundo. Uso forro emborrachado e dentro do possível uso pedaços de papel bolha entre um objeto e outro que estejam empilhados. Penso que assim o ruído será minimizado e o susto será menor. Mas, felizmente, ainda não tivemos a experiência para comprovar a eficiência desse tipo de organização.
Conversando com um amigo chileno, ele me contou que há pessoas que fixam uma ripa de madeira na parte frontal das prateleiras criando um obstáculo. Isso evita que copos, taças ou pratos deslizem para a frente e caiam no chão.
Outra observação importante de pessoas que já vivenciaram tremores mais fortes (e sabem do que estão falando) é abrir a porta principal da casa, o quanto antes, para evitar ficar preso, já que muitas vezes as portas emperram após um terremoto. Minha chave é mantida na fechadura. Imaginem ter de procurar o apetrecho com a terra balançando aos seus pés?!
Essas são dicas informais. As orientações mais relevantes vêm da Oficina Nacional de Emergencia del Ministerio del Interior y Seguridad Pública (ONEMI).
O post O que fazer em caso de terremoto? tem as recomendações oficiais sobre:
- Como agir antes, durante e depois de um terremoto
- O que colocar no kit de emergência
- Como elaborar um plano de emergência para segurança da família
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